segunda-feira, fevereiro 13, 2006

2006 - um ano a estrear

Paula Gonçalves Carvalho, do Departamento de Estudos Económicos e Financeiros do BPIA economia mundial expandir-se-á a um ritmo acelerado em 2006, revelando-se mais equilibrada por aumento do contributo positivo da Europa e do Japão. Os receios inflacionistas diluir-se-ão após a eliminação do impacto da subida do preço do petróleo, mas impõe-se a continuação do processo de normalização das taxas de juro de curto prazo. Os activos arriscados poderão viver um período mais negativo no início do ano, mas as taxas de juro de longo prazo dispõem de pouco espaço para subidas notórias.
Global
Apesar de se prever um crescimento robusto em 2006, antecipa-se uma desaceleração motivada, em parte, por um enquadramento financeiro menos estimulante, destacando-se as políticas monetárias progressivamente menos acomodatícias. O investimento deverá constituir um dos principais motores da expansão a nível global, assente em balanços mais saudáveis, na acumulação de avultados meios libertos e estimulado por políticas económicas favoráveis. A dinâmica de crescimento deverá ser mais repartida globalmente, ficando menos dependente do consumidor norte-americano e da economia chinesa. No Japão serão mais evidentes os sinais de crescimento sustentado enquanto a Zona Euro crescerá em torno do potencial.A inflação permanecerá controlada, dada a persistência de folga a nível da oferta global, facto para o qual contribui a crescente penetração nos mercados internacionais de mercadorias de produtores de baixo custo. A ainda escassa margem de imposição de preços pelas empresas, sobretudo na Europa, e o cenário para os preços do petróleo, de estabilização em torno dos 60 dólares por barril, justifica também as perspectivas benignas para a inflação.Apesar das perspectivas favoráveis, existe o risco de um maior arrefecimento no segundo semestre, com possível deslize para recessão nos EUA, em 2007. A incerteza relativamente ao final do ciclo de taxas de juro nos EUA poderá suscitar um ambiente financeiro adverso, ou seja, o aumento das taxas de juro de longo prazo, perdas nos mercados de acções e/ou aumento dos prémios de risco de crédito, induzindo um arrefecimento mais abrupto no segundo semestre.Ao longo de 2006 será também fundamental a forma como os mercados imobiliários responderão a taxas de juro mais altas. Neste capítulo destacam-se alguns países Europeus com sintomas de potencial formação de movimentos especulativos ao nível dos preços, designadamente a Irlanda, Espanha, o Reino Unido e também a França. Salienta-se ainda o caso do mercado imobiliário americano, onde se parecem ensaiar os primeiros passos para um abrandamento. A concretizar-se este cenário, será fundamental a dimensão da correcção, dada a importância do efeito riqueza na dinâmica do consumo privado.Numa outra perspectiva, poderá desenhar-se um cenário de insustentabilidade dos fortes desequilíbrios externos globais. Se por qualquer motivo os capitais deixarem de afluir aos EUA, o dólar entraria em colapso e as taxas de juro aumentariam exponencialmente, despoletando um cenário de recessão.
EUA
A economia deverá abrandar para os 3.3% em 2006, enquanto a inflação se quedará pelos 3,5%. 2006 será um ano de crescimento desigual. No primeiro semestre, o esforço de reconstrução alimentará ainda a expansão. No entanto, a partir de meados do ano já deverá ser evidente algum arrefecimento da actividade do consumidor, reflectindo o impacto de taxas de juro mais elevadas e a necessidade de reposição de poupanças num contexto de taxas de endividamento elevadas. O arrefecimento ligeiro ou, pelo menos, o menor ímpeto esperado no mercado imobiliário, e a consequente redução da extracção de riqueza dos activos imobiliários (house equity withdrawal) limitará a actividade do consumidor. Por outro lado, o mercado de trabalho continuará robusto, reflectindo a boa forma financeira do sector corporativo, e funcionando como um suporte fundamental para as famílias. O investimento permanecerá robusto assente na expansão de cash-flows e na evidência de algumas restrições a nível da capacidade instalada. Finalmente, o desequilíbrio externo poderá diluir-se lentamente, caso se confirme o abrandamento da procura doméstica e o dólar evolua com tendência de ligeira perda.O principal risco é de que ocorra um arrefecimento mais abrupto, à boleia da correcção do imobiliário, de um ambiente financeiro menos propício ou da necessidade de maior restritividade da política monetária. No entanto, a economia também pode surpreender pela positiva.Sobretudo se se desencadear um ciclo virtuoso, alimentado pela necessidade de reposição de stocks/melhoria do mercado laboral/ganhos inesperados de rendimento disponível. No entanto, dada a situação de endividamento excessivo das famílias e necessidade de reposição de poupanças, esta seria provavelmente uma situação insustentável a médio prazo.
Japão
No Japão deverão tor tornar nar nar--se mais balanceados os contributos da pr procura ocura inter interna na e exter externa na para o cr crescimento escimento escimento. O aumento do emprego a tempo inteiro favorece o robustecimento do consumo privado. O investimento deverá manter-se também dinâmico, dada a extensão do optimismo mesmo às empresas de menor dimensão (visível no relatório Tankan de Dezembro, por exemplo). Finalmente, a força das economias externas e os efeitos desfasados da depreciação do iene sustentarão as exportações. Neste contexto, deverão ser progressivamente mais evidentes os sinais de final da era de deflação.Os principais riscos estão relacionados com a eventualidade de uma maior restritividade da política monetária ou da política fiscal, pondo em causa a expansão. No entanto, a cautela evidenciada pelo Executivo nipónico e a postura prudente do BoJ justificam que atribuamos uma reduzida probabilidade a este cenário.
Europa
A UEM deverá crescer em torno do potencial, mas a inflação continuará a evidenciar alguma resistência à queda queda. As exportações e o investimento serão os principais motores da expansão enquanto o consumo privado deverá evoluir em linha com o rendimento disponível, suportado também pelos ganhos no mercado de emprego, que apresenta uma tendência de melhoria ligeira. No entanto, a expansão deverá continuar desigual em termos regionais. A performance da Alemanha constitui a principal boa notícia, dado que o processo de reestruturação empresarial, redução dos custos de trabalho e acordos verticais conseguidos em diversos sectores nos últimos anos, possibilitaram ganhos sustentáveis de competitividade face ao exterior. Adicionalmente, o regime fiscal favorável, permitindo a aceleração do regime de amortizações em 2006-07, favorecerá também a componente de investimento. Em contrapartida, espera-se um contributo mais modesto da França e de Espanha, em desaceleração ligeira face a 2005, em parte reflexo do aumento das taxas de juro do euro, dado que a dinâmica de ambas as economias assenta bastante no recurso ao crédito. Noutros casos antecipa-se estagnação enquanto algumas questões estruturais são lentamente resolvidas, com é o caso de Itália, a braços com eleições em 2006.Na Zona Euro, os principais riscos estão relacionados com a dinâmica da procura externa que continua a constituir um suporte fundamental para a retoma. Pelo que o fulgor dos principais parceiros comerciais, destacando-se os Estados Unidos e os países exportadores de petróleo, assim como a evolução do euro constituem os principais factores de risco ao cenário.
Portugal
Em 2006 a economia portuguesa deverá crescer ainda abaixo do potencial, em torno de 1%, devendo em simultâneo registar-se um padrão de crescimento mais saudável, assente nas exportações líquidas e numa melhoria ténue do investimento investimento. O consumo privado deverá registar uma nova desaceleração, em parte reflexo da habitual resposta desfasada do mercado de trabalho ao ciclo económico. A subida, ainda que ligeira, das taxas de juro do euro, num contexto de níveis de endividamento elevados das famílias portuguesas deverá também justificar o esperado menor dinamismo do consumo privado. Este será, no entanto, compensado pela retoma ligeira do investimento, reflexo de contágio de uma dinâmica mais favorável do sector exportador e também por via de algumas restrições de capacidade após anos consecutivos de desinvestimento - segundo o INE, a taxa de utilização da capacidade produtiva situa-se já acima dos 82%.Os riscos são no sentido negativo, ou seja, Portugal poderá registar mais um ano de crescimento sub-par em 2006 2006. Os motivos para este cenário pessimista são bem conhecidos. A economia portuguesa padece de deficiências estruturais acentuadas, cuja resolução só será possível a médio/longo prazo, destacando-se o diferencial de educação por comparação com as restantes economias desenvolvidas. Esta desvantagem tem vindo a tornar-se mais evidente nos últimos anos dado o ambiente externo concorrencial mais agressivo (crescente penetração de produtores de baixo custo e entrada na UE dos países de Leste Europeu) cujo efeito tem sido potenciado pela ausência ou diluição de anteriores factores propulsores do crescimento (por exemplo, a acentuada queda das taxas de juro ou a explosão do recurso ao crédito). A necessidade de saneamento das contas públicas e a gradual implementação de reformas que assegurem a sustentabilidade das contas do Estado contribuem também para deprimir a economia a curto prazo, ainda que constituam um elemento fundamental para colocar a economia no bom caminho. Numa outra perspectiva importa também referir que a contracção do investimento e os elevados níveis de desemprego, ainda que penosos a curto prazo, constituem um sinal de reestruturação do tecido produtivo nacional. O enfoque nos mercados externos e no aumento de produtividade, e a subida na escala do valor acrescentado constituem factores fundamentais para assegurar um padrão de crescimento mais sustentável. Em suma, apesar dos riscos e do caminho penoso, é importante salientar que a economia portuguesa está no bom caminho caminho.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

João Pereira Coutinho pode avançar para a PT

O Maior Negócio de Sempre em Portugal


Martim Avillez Figueiredo

O empresário está atento às oportunidades que surjam. Não exclui a possibilidade de uma oferta concorrente, mas neste momento ainda não tem o plano delineado. João Pereira Coutinho está a estudar uma resposta à oferta da Sonae sobre a Portugal Telecom, embora ainda não tenha desenhado o seu plano de acção definitivo, apurou o Diário Económico junto de diversas fontes próximas do empresário.O dono da AR Telecom, que concorre directamente com a PT, pretende aproveitar as oportunidades abertas com a oferta da Sonae e da Sonaecom, que irá revolucionar todos os equilíbrios do sector, garantem as mesmas fontes. Contactado pelo Diário Económico, João Pereira Coutinho considerou inoportuno fazer qualquer comentário nesta fase do processo.No entanto, segundo as mesmas fontes, João Pereira Coutinho estará já decidido a fazer qualquer coisa. Segundo afirmam, o empresário não exclui nenhuma possibilidade, desde a participação num grupo de investidores que façam uma oferta concorrente com a da Sonae, á possibilidade de adquirir alguns dos activos que a Sonae – ou qualquer que seja o vencedor da batalha pelo controlo da Portugal Telecom – seja obrigado a alienar por questões de concorrência, abrindo assim oportunidades de crescimento ao operador, que detém uma quota de mercado ainda limitada.Levantamento de fundos não é problemaQualquer opção deverá passar pelo levantamento de fundos nos mercados internacionais, um obstáculo que o empresário não terá grandes dificuldades em conseguir ultrapassar. Até porque, nesta altura, é mais difícil para estes grandes fundos (ver caixa) identificarem oportunidades de investimento do que levantar fundos nos mercados.A AR Telecom, que resultou da aquisição da antiga Jazztel, oferece serviços ‘triple play’ – vídeo, voz e dados – através de frequências de rádio, ou seja, sem necessidade de construir uma infraestrutura física. No entanto, o seu serviço, nesta fase inicial, centra-se sobretudo em Lisboa.Para João Pereira Coutinho, explicam as mesmas fontes, num sector dominado pela Portugal Telecom durante tão longos anos, a ruptura provocada pela Sonae vai abrir oportunidades de crescimento que tão cedo não se irão repetir. Assim, qualquer empresa do sector que tenha a ambição de ser maior, não pode deixar passar um momento destes ao lado.João Pereira Coutinho construíu o seu grupo a partir do sector da distribuição automóvel, detendo hoje um império centrado em Portugal e no Brasil, onde detém a Unidas, a maior empresa de gestão de frotas do país.João Pereira Coutinho preferiu não fazer qualquer comentário à oferta da Sonae, nem sobre as eventuais movimentações de alguns dos accionistas de referência da operadora.